Os Cães Ladram e a Caravana Passa…

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Para quem viveu nos bairros distantes dos grandes centros, era comum ver cães nas ruas fazendo grande alarido ao verem passar por perto algum veículo. Carroças, caminhões, automóveis, motos e até bicicletas, eram perseguidos pelos cães que, latindo alto e seguidamente, aproximavam as mandíbulas dos pneus quase sendo atropelados. O joguinho de futebol era interrompido e por alguns momentos discutiam-se as razões que levavam esses animais a se comportarem daquela maneira. Muitos diziam que os cães queriam saber qual era o número da placa do veículo perseguido. Nunca se testemunhou um atropelamento ou um pneu furado por uma dentada desses animais. Eles apenas se contentavam em latir enquanto o veículo seguia o seu destino. Era um mistério.

Mudaram as ruas e os veículos, o futebol nas ruas está mais raro e os cães não progrediram na velocidade que o evolucionista britânico Charles Darwin gostaria. No entanto, nada impede que as caravanas sigam seus rumos, mesmo com os cães continuando com o milenar comportamento de acompanhar aos latidos tudo o que se movimenta.

Os pensamentos, quando preservados e amparados pelas convicções e atitudes , impulsionam os rumos de qualquer caravana em direção às realizações.

O setor industrial madeireiro, em especial o segmento voltado à preservação de madeiras, necessita de novos impulsos. É certo que o crescimento orgânico anual existe, o que dá um pequeno fôlego. Porém, o crescimento desordenado da atividade, aliado ao não menos desordenado apoio dos órgãos reguladores, incapacitados de todas as formas de oferecer suporte ao crescimento dentro dos rigores da legalidade, são ameaças que comprometem o foco em novas oportunidades, contribuem para que ocorram desvios de rota.

É o momento de valorizar ações que estão resultando em ferramentas de apoio ao desenvolvimento de novos mercados para a madeira tratada. É o momento de dar a definitiva importância aos sinais dos tempos, sabendo como interpretá-los. Sente-se algo de diferente no ar, pressentem-se mudanças no nosso status quo.

As normas recentemente publicadas pela ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas, “NBR 6232 – Penetração e retenção de preservativos em madeira tratada sob pressão” e “NBR 16.143 – Preservação de Madeiras – Sistema de categorias de uso”, chegam para dar uma arejada no setor. Oferecem retaguarda fundamental à consolidação de mercados que até este momento estamos apenas tateando.  Fruto de longa viagem de uma caravana que sempre teve plena convicção dos rumos a serem seguidos, os trabalhos normativos realizados dentro da ABPM – Associação Brasileira de Preservadores de Madeira estão muito próximos de seu ápice. Duas recentes publicações e dois outros textos ora em consulta nacional são as provas definitivas dessas realizações.

A jornada para a conclusão da NBR 16.143 foi muito longa. Os trabalhos foram iniciados há mais de dez anos. O texto final foi fruto do envolvimento de pessoas, empresas e instituições que pelas suas atitudes impulsionaram os rumos a serem seguidos, ignorando atitudes acessórias que poderiam comprometer o foco dos trabalhos. Verdadeiramente tiveram a convicção da importância desse texto normativo em relação ao mercado. Hoje, os usuários da madeira em geral, especialmente os setores envolvidos com a construção, possuem uma ferramenta de apoio e orientação ao melhor uso da madeira tratada em sistemas construtivos.

Resta a continuidade das ações positivas para que não se permita que o ladrar dos cães possa comprometer os rumos dessa caravana em direção aos mercados onde a madeira tratada tem enorme oportunidade. As características de competividade, aliadas aos conceitos técnicos adequados, ao contrário de certos materiais concorrentes como, por exemplo, componentes metálicos em estruturas de cobertura, servirão de base para o alcance de marcante participação em um mercado estimado em pelo menos 2,0 milhões de metros cúbicos por ano.

 

Flavio C. Geraldo
Lonza Proteção de Madeiras
Gerente de Mercado para América Latina
flavio.geraldo@lonza.com